Colheres, espátulas, conchas, facas, garfos, estiletes, calçadeiras, potes, pinças, além de muitos objetos sem função utilitária aparente, compõem o universo das peças de bambu que faço.
De tamanhos bem variados, cada uma tem sua forma própria. Na sua maioria são peças fortes e robustas. Muitas são de delicadeza intrigante. Algumas são leves e inteiramente flexíveis. Quando agrupadas, formam conjuntos harmoniosos.
Feitas sem design previamente definido, elas resultam da espontaneidade do processo de trabalho, que tem por base o aproveitamento das especificidades de cada pedaço de bambu tomado como matéria prima. Procuro respeitar e realçar ao máximo as características do bambu. Assim, as peças sempre apresentam as fibras, na forma de linhas, pontos e elipses.Como não utilizo qualquer tinta ou verniz, as cores do bambu aparecem na sua condição natural. Descobri que, com o uso, as cores da madeira se tornam mais escuras e ainda mais bonitas.
É provável que nos últimos 25 anos tenha feito mais de 4.500 peças, centenas delas para dar de presente a pessoas amigas. Muitas foram destruídas por insetos vorazes. Na cozinha lá de casa, minhas colheres estão em maioria absoluta. Elas são ótimas para mexer doces e comidas, mas tem gente que tem pena de colocar em uso a que ganhou.
Acho muita graça das reclamações de quem esteja na fila de espera para ganhar uma delas. É bem comum que pessoas me perguntem, sempre sorrindo, sobre as minhas colheres – e isso é muito gratificante. Volta e meia recebo mensagens de gente interessada em comprar centenas de colheres para serem dadas como brinde. Dessas, morro de rir.
Devo ter em casa umas 2000 peças, quase todas guardadas em grandes caixas. Poderia ter bem mais se as brocas não gostassem tanto de bambu sem inseticida.
Percebi que ao pegar uma colher nas mãos, muitas pessoas começam, imediatamente, a fazer movimentos circulares como se, num passe de mágica, se transformassem em famosos cozinheiros, entusiasmados maestros ou hábeis espadachins.
photos: Diana Abreu